Um relacionamento sério
Briga, separa. Arrepende-se, pede desculpa e volta. Briga novamente e assim vai. O modo com que muitas pessoas se relacionam com comida é incrivelmente problemático. E não estamos falando só de bulimia e anorexia, mas dos transtornos alimentares que todo mundo já teve algum dia. Sabe aquele sentimento de culpa após comer um lanche inteiro e ainda o restinho que sobrou do seu amigo? E quando nos sentimos tristes e a única coisa que pode nos aliviar é um pote inteiro de sorvete de flocos?
Tudo bem isso acontecer às vezes, mas quando o alimento passa de fonte de nutrição para válvula de escape, é hora de rever se este relacionamento não está fazendo mais mal do que bem. Um relacionamento mal resolvido com a alimentação pode resultar em doenças crônicas, diabetes, doenças do coração e desencadear doenças emocionais.
De acordo com Sondra Kronberg, fundadora da Associação Nacional de Transtornos Alimentares, transtornos alimentares são uma coleção de pensamentos, sentimentos e comportamentos que não são apenas relacionados a peso e alimentos, mas também pensamentos errados sobre saúde.
Não é segredo que o que comemos e como comemos está intimamente relacionado com as nossas emoções. Dessa forma, transferimos ao alimento a responsabilidade de nos fazer sentir bem. Afinal, comer de fato promove a sensação de prazer.
Mas tudo que é demais faz mal. Apesar da tentação de escolher o que parece mais gostoso no menu, é preciso ter em mente o efeito de cada alimento na sua saúde. Será que vale mais à pena comer uma batata frita que vai gerar um prazer passageiro ou um prato de salada que vai garantir energia para o resto do dia? Você sabe a resposta, mas na hora da escolha, geralmente é a batata frita que ganha.
A prática de engajar todos os nossos sentidos para guiar as decisões relacionadas à alimentação é chamada de alimentação consciente pela co-fundadora e atual presidente do Center for Mindful Eating, Megrette Fletcher. Isso quer dizer estar presente com a mente focada durante as refeições. Dessa forma, a experiência de comer se torna muito mais prazerosa e inteligente.
Desenvolver um relacionamento diferente com o alimento também quer dizer cortar padrões. Para isso, é preciso identificar quais os gatilhos que te levam a abusar de certos alimentos. Por exemplo, se você sabe que em dias estressantes sente mais desejo de comer naquele fast-food a caminho de casa, por que não experimenta um trajeto diferente? O máximo que pode acontecer é economizar alguns trocados, além do mais, alimentos ultraprocessados te deixariam mais cansado em vez de aliviar o estresse.
Tente não usar comida como uma recompensa. Esse é um dos maiores gatilhos que levam as pessoas a usar comida como válvula de escape. Evite também ficar com fome demais para não acabar abusando na hora de comer. Uma boa ideia é carregar sempre uma fruta para que quando a fome bater, você possa ter em mãos uma escolha saudável que vai postergar a fome até o horário na próxima refeição.
Muitas vezes também achamos a fome está batendo, mas na verdade é sede. Tomar água até meia hora antes das refeições e a partir de duas horas depois é o ideal para evitar que ela atrapalhe na digestão. Dessa forma, a água ajuda a regular o sistema digestivo e também dá mais energia para realização das atividades diárias.
Quando nos tornamos mais conscientes no ato de comer, começamos a fazer pequenas mudanças que trazem muito mais vida para o relacionamento com o prato. Aos poucos, cada uma delas vai aprimorando nossas escolhas e até criatividade para testar receitas que nunca pareceram tão atraentes antes. Invista no seu relacionamento com a comida e quem sai ganhando é você.
Texto: Julie Grüdtner
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