domingo, 10 novembro

O que somos, apenas

Texto por: admin 28 julho, 2017 Sem comentários

Quando partirmos, não levaremos nada do que recebemos, mas deixaremos tudo o que fomos

Assistir aos noticiários de TV tem sido difícil já há algum tempo. Alguns dias causam grande mal-estar. Lembro-me de que neste ano, mais precisamente no mês de julho, uma notícia me incomodou bastante: com o novo aumento dos combustíveis (e o brasileiro já mais do que quebrado), o especialista em gastos públicos Gil Castelo Branco apontou como o governo poderia minimizar os rombos nas contas públicas sem repassar isso à sociedade.

Os dados foram impressionantes, vou dividir alguns com vocês e quem se interessar pela notícia na íntegra, pode acessar aqui.

No Brasil, cada deputado pode ter até 25 assessores. Se a Câmara tem 513 deputados, façam as contas! Já o Senado tem 81 senadores e cada um deles pode ter até 80 assessores. O gasto diário para manter Câmara e Senado é de 28 milhões de reais, mais de um milhão por hora. Agora, multiplique isso por 365 dias. Os valores são absurdos!

Mas tem mais. No judiciário, o auxílio-moradia é pago para juízes, promotores e procuradores, ainda que eles já tenham casa própria na cidade em que trabalham. De 2015 até julho de 2017, o valor gasto em auxílio-moradia já chegava a quatro bilhões de reais.

E por aí vai… Mas não seria possível tornar a máquina mais enxuta, cortar gastos e privilégios desnecessários, a fim de que o dinheiro fosse investido em educação, saúde, segurança pública, transporte e rodovias? É mesmo preciso manter o Estado nessas condições e aumentar ainda mais os impostos da população?

Se pararmos para pensar, ainda que utopicamente, seria um privilégio ser eleito por uma nação e poder usar o dinheiro que ela mesma produz para servi-la e torná-la forte. Por que isso não acontece? Por que milhões são sacrificados para que poucos desfrutem algo que não lhes pertence? Que tipo de mentalidade esses governantes têm construído? Será que sequer cogitam a possibilidade de haver um juízo no futuro ou uma recompensa para a má conduta? A vida é só aqui e agora? O imediatismo suplanta a possibilidade de se considerar que Alguém possa estar vendo tudo e que um dia haverá um acerto definitivo de contas?

Bem… Cada um tem sua própria maneira de enxergar o propósito da própria existência. Mas ainda que não se creia em nada além da matéria, valeria a pena perder a oportunidade de servir para ser lembrado na história como desonesto, corrupto, usurpador? Que infeliz trajetória!

Outro dia li um pensamento muito bonito de Francisco de Assis, que diz: “Lembra-te de que quando deixares esta terra não poderá levar contigo nada do que recebeste – sinais efêmeros de honra, paramentos do poder –, mas apenas o que soubeste dar: um coração pleno enriquecido pelo trabalho honesto, amor sacrifício e coragem.”

Quando formos embora, deixaremos tão somente o que fomos e nada mais. Francisco de Assis continua, religioso como era, completa: “Não percas de vista o final da vida. Não esqueças o teu propósito e destino como criatura de Deus. O que tu és à vista Dele é o que tu és e nada mais.”

No evangelho de Marcos 8:36, as palavras de Jesus são: “Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

Que rastro deixaremos? Quando se lembrarem de nós, o que dirão, que sentimentos provocaremos? Por mais que passemos toda a vida tentando sustentar uma imagem irreal, ao partirmos restará o que fomos, apenas.

Agatha Lemos é editora associada de Vida e Saúde

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